Wednesday, May 30, 2007

Bendita bagunça

Marcelo Coelho escreve no seu blog:

"Quem reclama de ter uma mesa atulhada de papéis pode encontrar alívio
num livro recém-editado na Inglaterra, A Perfect Mess: the hidden
benefits of disorder, de Eric Abrahamson e David Freedman. "A desordem
cria conexões", dizem os autores, cujo livro foi resenhado por Andrew
Stark no Times Literary Supplement.

Já Umberto Eco, em Como se faz uma tese, recomendava que o velho
método de acumular anotações de leitura em fichas de cartolina fosse
bagunçado de vez em quando, embaralhando-se todas as fichas para ver se
alguma aproximação casual de dados rendia frutos. Num mundo
bagunçado, uma informação específica pode ser difícil de achar, mas
conexões se fazem mais naturalmente.

O resenhista do "TLS" argumenta, contudo, que a oposição hoje em
dia não é entre ordem e bagunça numa mesa, mas entre mundo real e
virtual. Podemos encontrar informações isoladas num computador com
facilidade, já que cada "ficha" que antigamente estava ordenada em
ordem alfabética numa caixinha hoje em dia é acessível de várias
formas, através de várias "entradas" diferentes no computador.
Acontece, diz o resenhista, que as conexões acidentais que fazíamos ao
remexer papéis em cima de uma mesa agora não se fazem mais no espaço,
e sim no tempo. Pulamos de um link a outro, vamos nos enfiando cada vez
mais fundo no labirinto das conexões estabelecidas por nós (ou pelos
outros), e o difícil é refazer o caminho de volta. As conexões, ou
links, se sucedem no tempo, e não numa realidade sinóptica.

No mundo bagunçado da mesa, defendido pelos autores, conexões são
iluminações instantâneas do gênio, enquanto informações isoladas
são difíceis de encontrar. No mundo virtual, informações são
instantâneas mas as conexões são difíceis de fazer. Ou fáceis
demais, na ida, e difíceis na volta: a bagunça na mesa, conclui Andrew
Stark, é substituída pela bagunça na cabeça.

É como se esquecêssemos, ao longo de qualquer pesquisa no google, a
pergunta original, enquanto outras vão surgindo na cabeça."

http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br/
30/05/2007